Introdução e coragem...

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Pop Dealer de 21 de Outubro de 2008

Há cerca de um mês chegou à minha caixa de correio um álbum intitulado Oh skies of grey. Na capa, uma menina recortada de cabelos negros segura um pássaro de papel. No seu interior, um bilhete denuncia o entusiasmo por um primeiro trabalho há muito aguardado. Desde há três anos que Dana Falconberry reside na cidade texana de Austin, um dos pontos de maior efervescência no roteiro indie norte-americano, pelo que não é de estranhar que cedo tivesse dividido o seu tempo entre os estudos e a composição, actuando em pequenas salas e captando a atenção dos mais atentos. Um deles, de nome Red Hunter, fundador do projecto Peter & The Wolf , interessou-se pelas vocalizações depuradas de Dana, que a partir de 2006 passou a integrar o projecto. No entanto, o seu percurso a solo há muito que se encontrava traçado, e nesse mesmo ano editou Paper sailboat, um EP que reunia seis das suas composições, todas elas portadoras de uma inegável autenticidade folk, que se traduzia num registo de storyteller evocativo de um passado distante (a própria capa do EP deriva de uma fotografia do início do século passado, encontrada num baú, pertença dos avós de Dana). Esta marca encontramo-la ainda em Oh skies of grey, ancorando o álbum ao território folk, mesmo se a produção e os arranjos do mesmo surgem cuidados, mesmo quando a presença de guitarra, piano e bateria enriquecem as composições de Dana, adornando a sua voz, esta sim, ainda presa a um passado distante, girando no prato de um vinyl poeirento ou ecoando pelo velho soalho de um quarto de hotel. De salientar ainda a presença de duas outras vozes femininas, também elas oriundas de Austin: Gina Dvorak e Erika Maasen . Há muito companheiras de estrada, partilhando o mesmo palco e o estúdio, libertam Dana Falconberry do despojamento e da solidão que eram evidentes nas suas primeiras composições. Ao invés, este primeiro longa duração é revelador de uma maior confiança na forma como consegue alongar as suas fronteiras, ainda que nunca perdendo a folk de vista, permitindo-se no entanto a uma fuga por caminhos indecifráveis na faixa Fluorescent, construida sobre riffs de guitarra e uma forte e cadenciada bateria, deixando a adivinhar, quem sabe, o próximo passo.

podcast

01. Juana Molina sang Los hongos de Marosa from Un dia (2008) Domino Records
02. Headless Heroes sang To you from The silence of love (2008) Names Records
03. Mariee Sioux sang Wizard furry home from Faces in the rocks (2006) Grassroots
04. Holly Throsby sang The time it takes from A loud call (2008) Spunk Records
05. Lesser Gonzalez Alvarez sang The owl and the pussycat from Why is bear billowing (2008) Carpark

06. Dana Falconberry sang Clementine from Oh skies of grey (2008) Time Records

07. Dana Falconberry sang Someday from Oh skies of grey (2008) Time Records

08. Mary Hampton sang Concerning a frozen sparrow from My mother's children (2008) Navigator Records
09. Arms sang Kids aflame from Kids aflame (2008) Melodic Records


3 comentários:

l_l disse...

Fantastico!
Adorei a Dana.

Sara Mendes disse...

Dos nomes que já nos habituámos a trocar aos novos que vais descobrindo... Obrigada por me deixares estacionar com a Juana Molina! :)

Sabe muito bem saber que temos o traficante pop de volta ao éter...

Ricardo Mariano disse...

Gostei muito. Parabéns.

Como sabes, conheço a malta que passaste: adoro Mary Hampton.

abraço