Geografia hip

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Pop Dealer de 27 de Julho de 2010

Ao passarmos por algumas das reviews ao álbum
Fortress, o segundo longa duração dos Miniature Tigers, verificamos que sobre o elogio do mesmo é convocada uma discussão acerca da recente migração e alegada descaracterização do projecto norte-americano. Oriundos de Phoenix, a banda editou em 2008 o seu primeiro álbum Tell it to the volcano, trabalho esse que passou como que despercebido à maior da imprensa norte-americana. Após este ensaio, os elementos da banda deixaram o desértico Arizona para trás fixando-se no mais cosmopolita bairro de Brooklyn, descrito por muitos no presente como o local mais hip e efervescente dos territórios indie norte-americanos. Em boa hora o fizeram, a julgar pelas texturas deste Fortress, que conta com a colaboração de nomes como Neon Indian ou Chris Chu (The Morning Benders), assumindo as despesas da produção. No entanto, muitos dos seus seguidores iniciais estão hoje cépticos a esta mudança, sendo a banda acusada por alguma imprensa de Phoenix de terem renegado as sua origens, de modo a romperem o anonimato e as dificuldades de promoção a que muitos projectos "não-costeiros" estão sujeitos. Os comentários multiplicam-se pelos threads de opinião na imprensa local, havendo quem não perdoe aos Miniature Tigers a traição de já nem no seu Myspace assumirem a paternidade do Arizona, inscrevendo Brooklyn, NYC. De resto, alguns dos seus pares, como os Someone Still Loves You Boris Yeltsin, foram alvo de críticas semelhantes, estes por terem reeditado o seu primeiro e muito aclamado trabalho Broom (editado inicialmente pela própria banda numa label criada para o efeito) por uma major, tendo feito nessa altura havido cedências quanto à produção do álbum, que nessa segunda aparição surgiu com um som mais clean, perdendo-se de certa forma a marca que nos reconduzia a uma pequena banda de garagem de Springfield, Missouri. Poderemos pois questionar a relação que a imprensa, os blogs da especialidade e mesmo o público norte-americano terão com a geografia de cada projecto, mas a crua realidade é que, neste momento, Brooklyn is the place to be.

podcast

01. Motohiro Nakashima played Duck pond evening from We hum on the way home (2009) Loaf Label
02. Miniature Tigers played Lolita from
Fortress (2010) Modern Art
03. Miniature Tigers played Dark tower from Fortress (2010) Modern Art
04. Death Cab For Cutie played Scientist studies from
We have the facts and we're voting yes! (2000) Barsuk
05. Someone Still Loves You Boris Yeltsin played
Stuart gets lost dans le metro from Lei it sway (2010) Polyvinyl Records
06. Emily Jane White sang Red serpent from Victorian America (2009) Talitres Records
07. Sharon van Etten sang Give out from Because i was in love (2009) Language of Stone
08. Headlights played Wisconsin babes from Wildlife (2010) Polyvinyl Records
09. Josh Mease sang Neon ghost from Wilderness (2009) Hullo Records



Da reclusão de uma longa ausência

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Pop Dealer

Em todos os seus registos video, Sharon van Etten surge-nos sozinha em palco, em salas de pequenas dimensões, acompanhada apenas da sua voz e guitarra. Não se trata de uma coincidência, mas sim de uma mera extensão da natureza das suas composições, também elas encarceradas e presas à sua essência. Ao longo do álbum Because i was in love, um sóbrio exercício de desconstrução dos momentos que se seguem a uma ruptura, aquela solidão não só é perceptível, como perene na compreensão da sua escrita. Como a própria autora já referiu em diversas entrevistas, existe por vezes como que uma recusa ou uma fuga a um registo assumidamente melancólico por parte dos seus pares, o que não se verifica no seu caso, pois as suas palavras e vocalizações pressupõem uma relação directa e intimista com cada um daqueles que a escuta, radicando uma enorme depuração e despojamento por parte de van Etten que, pelo contrário, parece labirinticamente tecer essa mesma melancolia em cada faixa, não se furtando dela, escrevendo sobre ela. Daqui resulta uma enorme honestidade na sua interpretação, transversal aos arranjos que acompanham as suas composições e à forma como se apresenta em palco. Faixas como "I fold" ou "Keep" comportam momentos de solidão e de rara beleza, pela sua contida reclusão; curtos diálogos entre a sua autora e um seu confessor ou simplesmente formas de ultrapassar esse período frágil e só.

podcast

01. Jeremy Messersmith sang The silver city from The silver city (2008) Princess Records
02. Jeremy Messersmith sang Welcome to suburbia from
The silver city (2008) Princess Records
03. Simone White sang Without a sound from Yakiimo (2009) Honest Jons
04. Lisa Hannigan sang Lille from Sea sew (2008) ATO Records
05. Sharon van Etten sang I fold from Because i was in love (2009) Language of Stone
06. Motohiro Nakashima played A cat see the world spinning right from We hum on the way home (2009) Schole
07. Horse Feathers played Heathen's kiss from House with no home (2008) Kill Rockstars
08. Fiery Furnaces played Drive to Dallas from I'm going away (2009) Thrill Jockey
09. Taken By Trees sang Watch the waves from East of Eden (2009) Rough trade

Chamemos-lhe scandi world

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Pop Dealer de 25 de Agosto de 2009

Na sequência da sua saída do projecto escandinavo The Concretes, Victoria Bergsman afastou-se momentaneamente dos estúdios de gravação, procurando o anonimato no nosso país. Aqui, trilhou os primeiros caminhos de Open field, o álbum de originais que veio a gravar algumas semanas mais tarde, regressada a Gotemburgo. Contudo, de Portugal levou também a sua futura assinatura, Taken by Trees, o nome do seu projecto a solo que denuncia o encanto da compositora escandinava por uma árvore em particular, sobre a qual compôs a última faixa do álbum: Cedar trees. Mas se conceptualmente Open field apontava para o Atlântico Sul, já a atmosfera do mesmo de imediato nos recordava o imaginário de uma outra menina de franja, a escocesa Tracyanne Campbell e os seus Camera Obscura. Se as semelhantes vocalizações de ambas seriam suficiente motivo para tal analogia, maior pertinência ganhou esta comparação a partir do momento em que Tracyanne passou a colaborar nas gravações do álbum, assinando mesmo uma das suas faixas. O resultado foi um álbum de composições naives e delicadas, pautadas pela interpretação distante e etérea de Victoria, passeando-se melancólica sob uma produção cuidada e meticulosamente simples. Apenas a imprensa não parece terpercorrido Open field, tão poucas as menções à edição do mesmo; facto para o qual contribuiu a conhecida e já confessada timidez de Victoria Bergsman, quase sempre avessa a concertos ou mesmo entrevistas, sentindo-se intimidada pelo facto de os focos se virarem agora apenas para ela.

Cerca de três anos passaram, e ainda é a mesma Victoria Bergsman que encontramos em East of Eden: doce e tímida. Porém, a ruptura com o passado recente não poderia ser maior, pela sua geografia ou atmosfera. Gravado no longínquo Paquistão, o segundo álbum de Taken by Trees partiu de um pressuposto que não se cumpriu: o de uma colaboração com vozes femininas daquelas paragens. A própria Victoria explicou mais tarde que encontrou inultrapassáveis obstáculos, logísticos, culturais e religiosos, para a consecução de tal desejo. Face a esta adversidade logo à chegada, o passo expectável seria o de um regresso à Escandinávia; contudo, Victoria decidiu levar o seu projecto adiante, cedendo nos seus fundamentos e procurando uma constante partilha com músicos locais, da qual resultaram sessões e improvisos em salas de estar e pequenos pátios, apressadamente gravados para um simples Macbook, por vezes apenas num take, capturando desta forma a espontaneidade daqueles instrumentistas que nunca entraram (ou entrarão) num estúdio de gravação. Todo esse material recolhido ao longo de várias semanas foi então decomposto em inúmeras composições, ou pelo menos em pequenos rascunhos, seguindo-se então o regresso a Gotemburgo para a produção do mesmo. Ao longo de todas as faixas de East of Eden podemos escutar os sons da multidão que corre nas ruas, do trânsito apressado e caótico, as buzinas das trotinetas que aceleram por entre estreiras vielas. É esta a atmosfera que percorre todo o álbum, e que apenas na distante voz de Victoria Bergsman encontra um traço ocidental. Até mesmo My boys (uma singular cover de My girls dos Animal Collective) surge-nos por momentos irreconhecível. Para onde viajará de seguida, Victoria?

podcast

01. Riceboy Sleeps played Happiness from S/t (2009) Parlophone Records
02. Blitzen Trapper played Star me kitten from Automatic for the People XV (2007) Stereogum
03. Magic Arm played Outdoor games from Make lists, do something (2009) Switchflicker
04. Adem sang Bedside table from Takes (2008) Domino

05. Taken by Trees sang My boys from East of Eden (2009) Rough Trade
06. Taken by Trees sang Anna from East of Eden (2009) Rough Trade

07. Taxi Taxi played To hide this way from Still standing at your back door (2009) Rumracket
08. Daniel Martin Moore sang Every colour and kind from Stray age (2009) Sub Pop
09. Little Joy played The next time around from S/t (2009) Rough Trade

Não há duas como ela

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Pop Dealer de 04 de Agosto de 2009

Nos últimos meses muitas foram as singer songwriters que passaram pelo meu iPod, e perante todas elas desde já me desculpo. Não é que as suas composições sejam menores ou as suas vozes não me tenham feito cativo, mas presta-se este curto texto a uma confissão de que, até ao dia 05 de Agosto, nenhuma outra me encantou de uma forma tão bela como a menina Laura Gibson e o seu Beasts of seasons. Essa mesma beleza, encontramo-la em faixas como Spirited ou Sweet deception, momentos em que nos deparamos com uma timidez que parece embalar as suas vocalizações, em que somos assaltados pela assunção de uma contida inquietude, em que as palavras são demarcadas na sua fragilidade e doçura. Beasts of seasons parte de um sentimento de solidão, encerrando dois caminhos, duas escolhas definidas pela sua autora na estrutura daquele: num "Lado A" encontramos as denominadas "Communion songs", composições que exploram as relações com a família, com terceiros, com Deus; no seu "Lado B" as "Funeral songs" são determinadas pela assunção dessa mesma solidão, pela forma como a autora lida com essa condição e a assume como inevitável. Esta conceptualização é reveladora do cuidado com que Laura Gibson teceu os fios deste seu trabalho, da enorme carga emocional que percorre cada uma das suas letras, cada uma delas portadora momentos de redenção, ou como a própria refere, de um urgente alívio. Mas se a solidão marca o trajecto deste segundo álbum de Laura Gibson, já a sua gravação contou com a colaboração de inúmeros músicos, também eles oriundos da cidade de Portland, entre outros, Nate Query (The Decemberists), Rachel Blumberg (Bright Eyes), Adam Selzer (Norfolk & Western), Danny Seim (Menomena) e a não menos ilustre Laura Veirs. Ainda assim, este é um projecto pessoal e confessional da Gibson, que por algum momento nos remete para algo mais que a sua escrita, a sua voz e as suas composições.

podcast

01. Musette played 9th November from Datum (2009) Tona Serenade
02. Tiny Vipers sang Eyes like ours from Life on Earth (2009) Sub Pop
03. Horse Feathers played Burden from House with no name (2009) Kill Rock Stars

04. Laura Gibson sang Sleeper from Beasts of seasons (2009) Hush Records
05. Laura Gibson sang Postures bent from Beasts of seasons (2009) Hush Records

06. Musette played 1st Juni from Datum (2009) Tona Serenade
07. Coralie Clément sang Share the day from Toystore (2009) Discograph
08. St. Vincent sang Save me from what i want from Actor (2009)
Rough Trade
09. Discovery played I wanna be your boyfriend from LP (2009) 4AD
10. Animal Collective played Summertime clothes from Merriweather post pavillion (2009) Domino Records

O segundo passo

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Pop Dealer de 24 de Fevereiro de 2009

O que fazer quando o reconhecimento chega célere num toque polifónico? Quando a mesma melodia é assobiada num longo e interminável corredor de um qualquer shopping e em Barcelona, junto ao solarengo palco do Primavera Sound. Poderá existir uma sobreposição entre o momento em que escutamos essa mesma melodia pela primeira vez no quarto e os sucessivos abalroamentos polifónicos que sofremos nos meses seguintes? O que se perde em todo este processo? Quando milhares escutaram pela primeira vez o single Young folks, poucos seriam aqueles que reconheceram a voz etérea de Victoria Bergsmann ou teriam naquela semana ficado agarrados ao registo em animação que embrulhava uma faixa tão doce chegada no anonimato. Hoje, após um ano e meio de concertos pela Europa, Ásia e EUA, de consecutivas inserções em playlists, anúncios publicitários e colectâneas, será ainda menor o número daqueles que deram pela edição há poucas semanas de Seaside rock, o segundo álbum do projecto Peter, Bjorn & John. Tal facto não é de estranhar, pois este trabalho parece ter como derradeiro objectivo uma clara demarcação do anterior, tendo mesmo o seu conteúdo um carácter egoístico, tal a forma como parece isolar-se no território adolescente de Peter Móren. Seaside rock representa a subversão das expectativas criadas, ao convocar o imaginário da spoken word em faixas como "Erik's fishing trip" ou a vastidão da paisagem escandinava em longas composições instrumentais. Não existe aqui a mínima pretensão de vender milhares de singles, mas apenas um desejo tremendo de filtrar tudo aquilo que nunca coube em Writer's block e mergulhar num passado muito distante.

podcast

01.
Peter, Bjorn & John played Erik's fishing trip from Seaside rock (2009) Almost Gold
02. Taken By Trees sang
The legend from Open field (2008) Eleven Music
03. Arms played Fall from Kids aflame (2008) Melodic Records
04. Dept. of Eagles played Herring bone from In Ear Park (2008) 4AD

05. Daniel Martin Moore sang Who knows where the time goes from Stray age (2008) Sub Pop

06. Daniel Martin Moore sang That'll be the plan from Stray age (2008)
Sub Pop

07. Nancy Wallace sang The way you lie from Old stories (2008) Midwich Records
08. Will Cookson sang Antique toy Antique from Songs for a Sunday (2009) Tinpot Records
09. The Ruby Suns played Masai Maara from
The ruby suns (2006) Memphis Industries
10. Surf City played Free the city from Surf city EP (2009) Morr Music
10. Jenny Wilson sang Like a fading rainbow from Hardships! (2009) Rabid Records

Tropeço num recomeço

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Pop Dealer de 17 de Fevereiro de 2009

Sindri Mar Sigfusson
é um nome estranho de se pronunciar. Fundador do projecto islandês Seabear, distancia-se cada vez mais da sua matriz eminentemente acústica, explorando o vasto território da electrónica e a capacidade de integrar nas suas composições elementos pré-gravados no seu laptop ou pequenos samples avulsamente recolhidos. As faixas surgem-nos marcadas por um imediatismo convulsivo, uma ansiedade descoordenada e um irresistível e pueril encanto, como se Sindri tivesse nas suas mãos um Game Boy que obstinadamente tentava dominar. Aliás, o que escutamos nos primeiros segundos de Clangour, é a sua ansiedade em pontuar Advent in Ives Garden com todos os elementos electrónicos a que pôde recorrer, o que resulta em algo muito semelhante ao que encontramos nos álbuns de Shogu Tokumaru: a urgência de se transformar certas composições numa autêntica corrida. No entanto, Sindri não corre contra o tempo; Sin Fang Bous é um projecto que se completou em sua casa, tendo de imediato existido o interesse da sua editora, a Morr Music, de distribuir este primeiro longa-duração. Esta marca doméstica de todo o processo libertou ainda mais Sindri na sua exploração e consequente demarcação daquilo que tinha sido editado pelos Seabear anteriormente, um projecto que envolve sete músicos, e que é por vezes comparado aos Belle & Sebastian. Sem se tornar inacessível na sua constante e acelerada decomposição, Clangour cristaliza no seu registo DIY um álbum um pouco mais interessante do que aquilo que tinha sido aprsentado pelos Seabear até ao momento.

podcast

01. The Ruby Suns played There are birds from Sea lion (2008) Sub Pop
02. Sin Fang Bous sang
Carry me up to smell pine from Clangour (2008) Morr Music
03. Midori Hirano played Caracole from Klo yuri (2008) Noble Records
04. Psapp played Part like waves from The camel's back (2008) Domino Records

05. Magic Arm played Daft punk is playing at my house from Bootcy bootcy EP (2009) Switchmaker
06. Magic Arm played Said things from Bootsy bootsy EP (2009)
Switchmaker

07. Stereolab played Tomorrow's already here from Emperor tomato ketchup (1996) Elektra / Wea
08. Vetiver played Sister from Tight knit (2009) Sub Pop
09. Blur played Gene by gene from
Think tank (2003) Parlophone
10. Pavement played Harness your hopes from Brighten the corners: Creedence sceners (2009) Domino Records

O contrário de um hara kiri

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Tokumaru

Pop Dealer de 08 de Janeiro de 2009

Exit é para muitos uma porta de entrada. Ainda que o seu primeiro trabalho, intitulado Night piece, date de 2004, Shugo Tokumaru permanece enredado no anonimato, refém das suas vocalizações em japonês e de uma certa estranheza ou aversão pela chamada J-pop. No entanto, derivar todo o seu percurso apenas de uma etiqueta seria erróneo e injusto, pois se existe algo que o define são os contornos erráticos e a nervosa inquietude que serpenteia pelas suas composições. Em Exit os primeiros segundos correm apressados num doce disparo intitulado Parachute (ou Prachute se quisermos ser fiéis ao refrão) no qual a electrónica se precipita sobre uma melodia contagiante. Ao longo de todo o álbum é difícil definir quais os momentos em que uma pop composta e detalhada emerge em desfavor de uma folk depurada num registo de DIY, assim como pode ser ingrata a tarefa de classificar o pendor mais ou menos electrónico de certas faixas. O facto é que Tokumaru pretende e consegue, em faixas de não mais de três minutos, combinar todos aqueles elementos, como em Button ou Clocca, daí resultando por vezes uma marca quase que laboratorial. Se algumas destas composições apresentam traços esquivos e desajeitados, presas por fios que artificialmente se entrelaçam, já Sanganishi deve o seu embalo a um qualquer autor de indie folk do Midwest norte americano, tal a autenticidade que apenas é abalada pelo idioma em que é interpretada. E nem a pequena peça instrumental presente em Exit deixa de resgatar um sorriso quando julgamos escutar uma composição infantil intitulada Future umbrella, pontuada por elementos orientais e pela destreza de Shugo Tokumaru.

podcast

01. The Ruby Suns played Sleep in the garden from Daytrotter (2008) Daytrotter.com
02. Psapp played
Part like waves from The camel's back (2008) Domino Records


03. Shugo Tokumaru sang Button from Exit (2008) Almost Gold

04. Shugo Tokumaru sang Sanganishi from Exit (2008) Almost Gold

05. Ivan Colón sang Song for the waiting from Despite the Atlantic EP (2008) Milan Records
06. Butcher The Bar sang Opening night from Sleep at your own speed (2008) Morr Music
07. Will Cookson sang Stormy old weather from Songs for a Sunday (2008) Tinpot Records
07. Will Cookson sang Autumn song from Songs for a Sunday (2008) Tinpot Records
08. Bobby & Blumm played Leave a taste from Everybody loves... (2008) Morr Music
10. St. Vincent sang Land mines from
Marry me (2007) Beggars Banquet
11. Au Revoir Simone played Stars from Daytrotter (2008) Daytrotter.com

Caminhando contra o vento, num sol de quase Dezembro

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Pop Dealer de 25 de Novembro de 2008

Escrevo enquanto escuto o seu último trabalho, To be still, editado pela Rough Trade cuja influência nos territórios indie assegura nos dias de hoje a merecida atenção que as composições de Alela há muito reivindicavam. Ainda enquanto figurante nas fileiras da Grassroots , ao lado de nomes como Mariee Sioux ou Alina Estelle Hardin, parecia gradualmente ultrapassar as estanques fronteiras daquela pequena label de folk e bluegrass. Com o seu primeiro longa duração, The pirate's gospel, deu o sempre determinante primeiro passo ao romper com a indiferença da imprensa, recolhendo um crescente número de seguidores que se deixaram levar pela sua voz, portadora de uma rara identidade. Na sequência da sua promoção, Alela actuou por várias vezes em França, tendo ainda percorrido dezenas de estados norte americanos ao longo de vários meses, parecendo hoje cada vez mais longínquos os posts no seu myspace nos quais solicitava quartos onde pudesse pernoitar. Foi ainda ao longo dessa múltipla sucessão de datas que Diane começou a experimentar em palco algumas das suas composições que figurariam neste To be still. Num registo ainda depurado, próprio do seu trabalho anterior, podemos escutar alguns desses avanços na sua Daytrotter session ou na sua passagem pelas ruas de Paris sob o foco da câmera de Vincent Moon, na já reconhecida La Blogothèque. O resultado dessa lenta evolução pode ser descrito como mais composto, menos naif e claramente mais ousado; curiosamente um caminho semelhante áquele percorrido por outra singer songwriter emergente na indie folk norte americana: Dana Falconberry. Ambas partiram de álbuns de uma autenticidade a toda a prova, na forma como dependiam apenas da voz, de uns quantos acordes e das palavras; porém, chegados a 2009, deparamo-nos com verdadeiros álbuns de estúdio, com cuidados arranjos e uma produção polida (veja-se à distância a interpretação de faixas como To be still e My brambles em 2007). Mas talvez aquilo que é mais surpreendente em Alela Diane nem seja esta evolução, mas sim um projecto intitulado Headless Heroes. Chegado aos meus headphones há algumas semanas atrás, foi difícil não escutar as suas dez faixas por repetidas vezes. Passível de ser obscurecido por To be still trata-se de uma proposta do produtor nova-iorquino Eddie Bezalel que, ao escutar a voz de Alela através no seu myspace, convidou-a a interpretar alguns clássicos de nomes tão ilustres como Nick Cave, The Jesus & Mary Chain, Vashti Bunyan ou Linda Perhacs. Se dúvidas havia de que a voz de Diane se reveste de uma rara beleza, todas elas serão certamente dissipadas ao longo das referidas dez faixas, ao adquirir contornos etéreos, entrelaçando-se em riffs de guitarra ou incorporando letras algo distantes daquelas a que associamos a sua voz, revelando-nos deste modo uma dimensão que permanecia escondida: a de vocalista. Por vezes julgamos mesmo escutar Victoria Legrand dos Beach House, Emily Haines ou mesmo Amy Millan. No entanto trata-se de Alela Diane, capaz de emergir da folk do Midwest e se adaptar aos formatos mais díspares ou convencionais.

podcast

01. The Ruby Suns played Kenya dig it! from Daytrotter sessions (2008) Daytrotter.com
02. Daniel Ledwell s
ang Daisy, you are a liar from Two over seven EP (2008) Dead Daisy

03. Dana Falconberry sang Birthday song from Oh skies of grey (2008) Time Records

04. Headless Heroes played Blues play the game
from The silence of love (2008) Names Records
05.
Headless Heroes played True love will find you in the end from The silence of love (2008) Names Records

06. Juana Molina & Alejandro Franov played Amigo from AuB = Estereo (2003) S/r
07. Departement of Eagles played Around the bay from In Ear Park (2008) 4AD
08. Euros Childs sang Farm ant murder from Cheer gone (2008) Wichita
09. Jose Gonzalez sang Heartbeats from Live at Park Avenue EP (2008) Mute
10. Vincent Delerm sang La vie est la même from
Quinze chansons (2008) Tôt ou Tard

Os primeiros erráticos passos...

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Não são muitos os autores norte-americanos que percorrem o território sonoro francófono. Ao contrário dos seus pares britânicos, o legado de Gainsbourg e da chanson française permanece arredado e distante no horizonte do Atlântico Norte. Jarvis Cocker confessou há muito o seu fervor pela obra do referido compositor. Scott Walker e Neil Hannon cruzaram por várias vezes os seus caminhos com o de Jacques Brel. Damon Albarn celebrou de uma forma particularmente elegante a nouvelle vague, aquando da gravação da faixa To the end, em 1994, ao partilhar as vocalizações da mesma com Françoise Hardy. A distância de que falo não embate pois na barreira linguística; perde-se talvez na clausura cultural, própria da imensidão de um território que encerra uma multitude de sonoridades. No entanto, existem excepções, e uma delas intitula-se White Hinterland , projecto que esconde uma exímia letrista chamada Casey Dienel, autora de pequenas crónicas urbanas, nas quais as personagens surgem-nos frenéticas e autênticas, um pouco perdidas no turbilhão dos dias ou meramente afastadas da crua realidade. Oriunda de Boston, em 2006 Casey editou o seu primeiro trabalho homónimo: uma colecção de pequenas peças erráticas e por vezes jazzisticas, cuja interpretação se decompunha em voz e piano. Mais tarde, a mutação em White Hinterland, sinónimo de maturidade e de um maior cuidado nas suas composições. Com este projecto surgiram os arranjos de cordas, uma escrita menos centrada em estudos de personagem, encerrando uma maior dimensão poética, e acima de tudo, o fim da solidão em palco e no estúdio. Em 2008, Casey decidiu expandir as fronteiras deste projecto, tendo editado em Outubro o EP Luniculaire, tributo ao imaginário francófono e a algumas vozes que o traçaram. Nele encontramos reinterpretações de Requiem pour un con de Gainsbourg, Mon ami la rose de Hardy e J'ai 26 ans de Brigitte Fontaine, às quais se juntam dois originais de Dienel, também escritos em francês e evocativos daquele legado. A sua editora (Dead Oceans) compara-a a Elizabeth Fraser . As suas composições há muito que deveriam dispensar apresentações.

podcast

01. Jens Lekman sang REC (at Salthomen) from At the dept. of forgotten songs (2005) Secretly Canadian
02. White Hinterland s
ang I miss you from Stereogum presents: Post (2008) Stereogum.com

03. Stars played A thread cut and a carved knife from Sad robots EP (2008)Arts & Crafts
04. Dana Falconberry sang Blue umbrella from Oh skies of grey (2008) Time Records
05. Beatbeat Whisper played And suddenly apart was shared from Wonder continental (2008) S/r

06. Arms played Construction from Kids aflame (2008) Melodic Records

07. Arms played Sad sad sad from Kids aflame (2008) Melodic Records

08. Dept. of Eagles played Floating on Lehigh from In Ear Park (2008) 4AD
09. Headless Heroes played Just like honey from The silence of love (2008) Names Records

Introdução e coragem...

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Pop Dealer de 21 de Outubro de 2008

Há cerca de um mês chegou à minha caixa de correio um álbum intitulado Oh skies of grey. Na capa, uma menina recortada de cabelos negros segura um pássaro de papel. No seu interior, um bilhete denuncia o entusiasmo por um primeiro trabalho há muito aguardado. Desde há três anos que Dana Falconberry reside na cidade texana de Austin, um dos pontos de maior efervescência no roteiro indie norte-americano, pelo que não é de estranhar que cedo tivesse dividido o seu tempo entre os estudos e a composição, actuando em pequenas salas e captando a atenção dos mais atentos. Um deles, de nome Red Hunter, fundador do projecto Peter & The Wolf , interessou-se pelas vocalizações depuradas de Dana, que a partir de 2006 passou a integrar o projecto. No entanto, o seu percurso a solo há muito que se encontrava traçado, e nesse mesmo ano editou Paper sailboat, um EP que reunia seis das suas composições, todas elas portadoras de uma inegável autenticidade folk, que se traduzia num registo de storyteller evocativo de um passado distante (a própria capa do EP deriva de uma fotografia do início do século passado, encontrada num baú, pertença dos avós de Dana). Esta marca encontramo-la ainda em Oh skies of grey, ancorando o álbum ao território folk, mesmo se a produção e os arranjos do mesmo surgem cuidados, mesmo quando a presença de guitarra, piano e bateria enriquecem as composições de Dana, adornando a sua voz, esta sim, ainda presa a um passado distante, girando no prato de um vinyl poeirento ou ecoando pelo velho soalho de um quarto de hotel. De salientar ainda a presença de duas outras vozes femininas, também elas oriundas de Austin: Gina Dvorak e Erika Maasen . Há muito companheiras de estrada, partilhando o mesmo palco e o estúdio, libertam Dana Falconberry do despojamento e da solidão que eram evidentes nas suas primeiras composições. Ao invés, este primeiro longa duração é revelador de uma maior confiança na forma como consegue alongar as suas fronteiras, ainda que nunca perdendo a folk de vista, permitindo-se no entanto a uma fuga por caminhos indecifráveis na faixa Fluorescent, construida sobre riffs de guitarra e uma forte e cadenciada bateria, deixando a adivinhar, quem sabe, o próximo passo.

podcast

01. Juana Molina sang Los hongos de Marosa from Un dia (2008) Domino Records
02. Headless Heroes sang To you from The silence of love (2008) Names Records
03. Mariee Sioux sang Wizard furry home from Faces in the rocks (2006) Grassroots
04. Holly Throsby sang The time it takes from A loud call (2008) Spunk Records
05. Lesser Gonzalez Alvarez sang The owl and the pussycat from Why is bear billowing (2008) Carpark

06. Dana Falconberry sang Clementine from Oh skies of grey (2008) Time Records

07. Dana Falconberry sang Someday from Oh skies of grey (2008) Time Records

08. Mary Hampton sang Concerning a frozen sparrow from My mother's children (2008) Navigator Records
09. Arms sang Kids aflame from Kids aflame (2008) Melodic Records