Geografia hip

|


Pop Dealer de 27 de Julho de 2010

Ao passarmos por algumas das reviews ao álbum
Fortress, o segundo longa duração dos Miniature Tigers, verificamos que sobre o elogio do mesmo é convocada uma discussão acerca da recente migração e alegada descaracterização do projecto norte-americano. Oriundos de Phoenix, a banda editou em 2008 o seu primeiro álbum Tell it to the volcano, trabalho esse que passou como que despercebido à maior da imprensa norte-americana. Após este ensaio, os elementos da banda deixaram o desértico Arizona para trás fixando-se no mais cosmopolita bairro de Brooklyn, descrito por muitos no presente como o local mais hip e efervescente dos territórios indie norte-americanos. Em boa hora o fizeram, a julgar pelas texturas deste Fortress, que conta com a colaboração de nomes como Neon Indian ou Chris Chu (The Morning Benders), assumindo as despesas da produção. No entanto, muitos dos seus seguidores iniciais estão hoje cépticos a esta mudança, sendo a banda acusada por alguma imprensa de Phoenix de terem renegado as sua origens, de modo a romperem o anonimato e as dificuldades de promoção a que muitos projectos "não-costeiros" estão sujeitos. Os comentários multiplicam-se pelos threads de opinião na imprensa local, havendo quem não perdoe aos Miniature Tigers a traição de já nem no seu Myspace assumirem a paternidade do Arizona, inscrevendo Brooklyn, NYC. De resto, alguns dos seus pares, como os Someone Still Loves You Boris Yeltsin, foram alvo de críticas semelhantes, estes por terem reeditado o seu primeiro e muito aclamado trabalho Broom (editado inicialmente pela própria banda numa label criada para o efeito) por uma major, tendo feito nessa altura havido cedências quanto à produção do álbum, que nessa segunda aparição surgiu com um som mais clean, perdendo-se de certa forma a marca que nos reconduzia a uma pequena banda de garagem de Springfield, Missouri. Poderemos pois questionar a relação que a imprensa, os blogs da especialidade e mesmo o público norte-americano terão com a geografia de cada projecto, mas a crua realidade é que, neste momento, Brooklyn is the place to be.

podcast

01. Motohiro Nakashima played Duck pond evening from We hum on the way home (2009) Loaf Label
02. Miniature Tigers played Lolita from
Fortress (2010) Modern Art
03. Miniature Tigers played Dark tower from Fortress (2010) Modern Art
04. Death Cab For Cutie played Scientist studies from
We have the facts and we're voting yes! (2000) Barsuk
05. Someone Still Loves You Boris Yeltsin played
Stuart gets lost dans le metro from Lei it sway (2010) Polyvinyl Records
06. Emily Jane White sang Red serpent from Victorian America (2009) Talitres Records
07. Sharon van Etten sang Give out from Because i was in love (2009) Language of Stone
08. Headlights played Wisconsin babes from Wildlife (2010) Polyvinyl Records
09. Josh Mease sang Neon ghost from Wilderness (2009) Hullo Records



Da reclusão de uma longa ausência

|


Pop Dealer

Em todos os seus registos video, Sharon van Etten surge-nos sozinha em palco, em salas de pequenas dimensões, acompanhada apenas da sua voz e guitarra. Não se trata de uma coincidência, mas sim de uma mera extensão da natureza das suas composições, também elas encarceradas e presas à sua essência. Ao longo do álbum Because i was in love, um sóbrio exercício de desconstrução dos momentos que se seguem a uma ruptura, aquela solidão não só é perceptível, como perene na compreensão da sua escrita. Como a própria autora já referiu em diversas entrevistas, existe por vezes como que uma recusa ou uma fuga a um registo assumidamente melancólico por parte dos seus pares, o que não se verifica no seu caso, pois as suas palavras e vocalizações pressupõem uma relação directa e intimista com cada um daqueles que a escuta, radicando uma enorme depuração e despojamento por parte de van Etten que, pelo contrário, parece labirinticamente tecer essa mesma melancolia em cada faixa, não se furtando dela, escrevendo sobre ela. Daqui resulta uma enorme honestidade na sua interpretação, transversal aos arranjos que acompanham as suas composições e à forma como se apresenta em palco. Faixas como "I fold" ou "Keep" comportam momentos de solidão e de rara beleza, pela sua contida reclusão; curtos diálogos entre a sua autora e um seu confessor ou simplesmente formas de ultrapassar esse período frágil e só.

podcast

01. Jeremy Messersmith sang The silver city from The silver city (2008) Princess Records
02. Jeremy Messersmith sang Welcome to suburbia from
The silver city (2008) Princess Records
03. Simone White sang Without a sound from Yakiimo (2009) Honest Jons
04. Lisa Hannigan sang Lille from Sea sew (2008) ATO Records
05. Sharon van Etten sang I fold from Because i was in love (2009) Language of Stone
06. Motohiro Nakashima played A cat see the world spinning right from We hum on the way home (2009) Schole
07. Horse Feathers played Heathen's kiss from House with no home (2008) Kill Rockstars
08. Fiery Furnaces played Drive to Dallas from I'm going away (2009) Thrill Jockey
09. Taken By Trees sang Watch the waves from East of Eden (2009) Rough trade